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Monday, July 11, 2005

Considerações sobre o colunismo no Brasil

A COLUNA[1]

A coluna é uma espécie de área privativa com regulamento próprio onde se misturam em intimidade, sobre assuntos gerais ou temas específicos, notícia e comentário, entrevista e interpretação, humorismo e gravidade, tudo em textos curtos, em forma de pílulas, e com certa liberdade de expressão. É o dado que faltou ao grande noticiário, o lado pitoresco do acontecimento, o detalhe curioso de uma decisão.
A idéia de delimitar a coluna e dar-lhe essa característica surgiu simultaneamente no fim do século 19, nos Estados Unidos, com Eugene Field, no Daily News, de Chicago, e Ambrose Bierce, no Examiner, de São Francisco, como reação ao rigor na separação e emprego da notícia e do comentário, e à camisa de força dos editoriais. O colunismo, como ficou conhecido, teve aceitação imediata na imprensa brasileira.
A sua receptividade entre os brasileiros também foi favorecida pelo cansaço dos leitores com os longos comentários, e não só pó isso como pelo toque de humor e malícia que muitos profissionais souberam dar à redação dos pequenos textos. Hermano Alves (colunista) disse que “nada melhor do que uma pitada de malícia para dar sabor a uma coluna”.
Paradoxalmente, o êxito de uma coluna concorre, não raro, entre nós, para sua desfiguração. Local de fácil comunicação transforma-se em abridora de caminhos ou salão de sondagem de determinados grupos. Em outros momentos, é a vala comum de notícias menores de interesse da direção da empresa, de suas relações, das agências de relações públicas e publicidade, e dos amigos do colunista. A constância das pessoas acaba, às vezes, por triunfar sobre a ética profissional e, entre duas notícias qualificadas, o leitor é obrigado a consumir a promoção de um cliente importante do jornal.
O colunista disputa com o repórter o prazer da notícia em primeira mão, com o redator a capacidade de dizer o máximo com o mínimo de palavras e com o comentarista a sutileza de espírito, a perspicácia e a finura. Tem que ser um jornalista experiente no trato da entrevista e com ampla possibilidade de circulação em todas as áreas.
O campo de ação do colunista são os grandes centros de decisão, os bastidores, as reuniões sociais, os acontecimentos mundanos. Muito material surgiu também da colaboração entre colegas da mesma ou de diferentes empresas.
O fato de reunir toda uma soma de poder em suas mãos e de comentar temas os mais variados, como um especialista polivalente, tem causado apreciações negativas ao colunista, como esta feita por uma autoridade norte-americana:
De todas as fantásticas figuras que se têm levantado do pântano da confusão, desde a Grande Guerra, a mais fútil e, ao mesmo tempo, a mais pretensiosa, é a do profundo pensador de cabelo empastado, o colunista ou comentarista que sabe todas as respostas de improviso e pode resolver grandes problemas com absoluta confiança, três e até seis dias da semana.

Mesmo John Hohenberg, que elogia alguns colunistas por sua capacidade de iluminar as notícias e trazer algum esclarecimento diz que “alguns são modestos, mas outros insuportavelmente arrogantes ao pretenderem modelar a opinião pública”.
Não é raro o colunista tornar-se mais importante do que o próprio jornal e por esse motivo um dos grandes matutinos do Rio de janeiro, o Correio da Manhã, hoje extinto, sempre se negou a introduzir qualquer coluna com as características que marcam este gênero no jornalismo.
Em que pesem, porém, as críticas feitas aos colunistas, o fato é que a coluna vive uma fase de prestígio graças ao volume de informação que fornece à leveza e ao tamanho reduzido dos textos.

[1] Texto de Luiz Amaral, em “Jornalismo, matéria de primeira página”, ed. Tempo Brasileiro, 1986.

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