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Monday, September 12, 2005

Fidelidade dos leitores e anunciantes garantirá crescimento da imprensa de bairro




"... uma parceria de mais de 20 anos com os jornais comunitários, que mesmo com muitas dificuldades comerciais, e até mesmo operando no vermelho, continuam resistindo."

"No início dos anos 90, ZH fez o mesmo e pouco depois desistiu do projeto, sem consultar a comunidade, deixando apenas a frustração de não ter levado a cabo as promessas editoriais."

Por Beatriz Dornelles

O jornal Zero Hora surpreendeu a todos, jornalistas e comunidades de bairro, ao anunciar que estaria lançando em agosto quatro cadernos de bairro: no dia 5, Bom Fim (mais Santana e parte de Rio Branco); no dia 12, Moinhos de Vento (mais Auxiliadora. Independência, Floresta e parte de Rio Branco); no dia 19, Bela Vista (mais Mont' Serrat, Três Figueiras e Boa Vista) e dia 26 Zona Sul (Ipanema. Tristeza, Sétimo Céu, Assunção e Vila Conceição). Em entrevista ao site Coletiva.Net, o presidente da Associação dos Jornais de Bairro e Segmentados de Porto Alegre -Rede Jornal, Roberto Corrêa Gomes, declarou que estranhou a iniciativa de ZH, já que todos os bairros em que serão lançados os cadernos já têm jornais sólidos, com circulação plena e estão totalmente envolvidos com as regiões representadas.
O estranhamento do presidente não é à toa. Já no inicio dos anos 90, a Zero Hora fez a mesma coisa e poucos meses depois desistiu do projeto, sem nenhuma consulta à comunidade, deixando apenas a frustração de não ter levado a cabo as promessas editoriais realizadas antes do lançamento do projeto. Ou seja, não houve nenhum comprometimento por parte de Zero Hora com os problemas sociais e reivindicações das diversas comunidades de Porto Alegre. Nesta segunda investida, apresentada ao público no dia 5 de agosto, ZH destacou apenas um repórter para realizar as reportagens e acompanhar as atividades e reuniões das quatro áreas. O mesmo profissional precisa fazer as fotografias, pois não foram designados fotógrafos para a cobertura de fatos dos bairros. Há, ainda, um editor e um diagramador. As mesmas áreas contam com a presença de cerca de 20 jornalistas dos jornais de bairro que circulam nas regiões selecionadas pela Zero Hora.
Esta postura nos leva a acreditar que o objetivo deste jornal e prioritariamente comercial. Tal julgamento baseia-se também numa análise editorial dos cadernos de Zero Hora. Eles não apresentam nenhuma novidade editorial, ao contrário, copia o que já está sendo praticado pêlos jornais de bairro de Porto Alegre. Aliás, com tantos profissionais competentes e criativos, não haveria necessidade de repetir as propostas editorias dos jornais já existentes.
Por exemplo, praticamente todos os jornais de bairro, e alguns segmentados, há mais de 20 anos têm seções para contar a história das ruas, praças e prédios do local. Desde os anos 90, os jornais de bairro ampliaram a aproximação com as associações de moradores, com os lideres comunitários e com a população em geral.
A seção de cartas é uma tradição em praticamente todos os jornais em circulação. Entrevista com lideranças, artistas, empresários. trabalhadores do bairro foi uma das primeiras propostas postas em prática pelo jornal Oi!, no Menino Deus. O tema envolvendo o meio ambiente tem sido uma luta constante do Já, Folha 3, Bela Vista, Jorna-lecão. Fala! São João, além de todos os outros que também dão ampla cobertura aos movimentos que envolvem o setor.
As atividades comunitárias da Brigada Militar foram acompanhadas desde o inicio (década de 90) por todos os jornais de bairro. Seções dirigidas a crianças e adolescentes também são iniciativas de alguns jornais de bairro, destacando-se o Folha 3, que desde suas primeiras edições dedica uma página para os adolescentes.
Divulgação de diferentes cultos e de religiões faz parte da pauta mensal de todos os jornais, bem como a cobertura de esporte local. Casamentos, batizados e mortes são temas de alguns jornais de bairro, há anos, como é o caso do Destak e do Zona Norte. Também a culinária ou gastronomia é um assunto que faz parte da tradição dos jornais.
Sendo esses os temas abordados pêlos cadernos de bairro de Zero Hora, não há nenhuma novidade apresentada, apenas uma cópia do que já é feito pêlos tradicionais jornais de bairro de Porto Alegre. A grande diferença está no fato dos jornalistas da imprensa de bairro estarem totalmente integrados nas atividades dos moradores dos bairros onde circulam e os profissionais de Zero Hora não terem nenhum afinidade com a vida comunitária dos bairros.
Não se pode deixar de destacar, também, que os cadernos de Zero Hora, que têm tabela de preços exclusiva, estão sendo comercializados com base nos preços dos jornais de bairro. Assim, concluímos que a motivação de Zero Hora para cobrir os bairros é comercial. Ou seja, ela pretende "conquistar" os anunciantes que tradicionalmente anunciam na imprensa de bairro. Essa postura é altamente danosa para comunidade. Por isso acredito que os 34 jornais de bairro de Porto Alegre mais os cerca de 20 jornais segmentados devem fazer uma campanha de esclarecimento, de forma que a comunidade e os anunciantes tenham elementos para se posicionar: ou abandonam uma parceria de mais de 20 anos com os jornais comunitários para apoiar uma novidade que, se apresentar dificuldades comerciais, pode acabar a qualquer momento, ou continuam apoiando a mídia comunitária, que mesmo com muitas dificuldades comerciais e até mesmo operando no vermelho continuam resistindo. O que não pode ser ignorado é a ganância e a concorrência desleal, praticada pela imprensa de massa, pois os pequenos jornais comunitários não contam com nenhuma estrutura para enfrentar poderosas forças empresariais, a não ser com a lealdade dos moradores e a confiança dos anunciantes. Esperamos que estes sejam fiéis ao trabalho desenvolvido pêlos jornais de bairro ao longo dos últimos 20 anos.

Jornalista, professora com Doutorado em Jornalismo pela ECA/USP. c pesquisadora do Programa de Pós-Grauuaçâo da Famecos/PUCRS

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