MUITO PRAZER

Agradeço sua visita em meu blog e desejo que lhe seja útil. Se precisar de algum tipo de orientação acadêmica, estou à disposição na Faculdade de Cmunicação Social da PUCRS/Porto Alegre.

Thursday, July 08, 2010

Nelson Traquina

NELSON TRAQUINA

QUEM É O AUTOR
Nelson Traquina é responsável pela introdução do jornalismo, enquanto objeto de estudo e de investigação, no ensino universitário de Portugal. Licenciado em Política Internacional pela Assumption College, dos Estados Unidos, o pesquisador é mestre em Política Internacional e em Comunicação Política e Social. Fez doutorado em Sociologia, em Paris, com equivalência para Comunicação Social. Entre suas obras estão Viagem pelo mundo audiovisual português, Jornalismo: questões, teorias e estórias, O quarto poder frustrado: os meios de comunicação social no Portugal pós-revolucionário, O estudo do Jornalismo no século XX e O poder do Jornalismo: análise e textos da teoria do agendamento.

OS LIVROS

O poder do Jornalismo: análise e textos da Teoria do Agendamento
A partir da perspectiva dos fundadores da teoria do agendamento – Maxwell E. McCombs e Donald L. Shaw –, Traquina fala da influência e do poder do jornalismo na sociedade contemporânea a partir de efeitos cognitivos que produz. Dos assuntos que seleciona à visibilidade que produz, a mídia expõe a realidade e reconfigura uma nova visão do mundo.

Primeira parte: Análise
Quando o conceito de agendamento surgiu pela primeira vez (em um artigo de 1972, publicado em uma revista acadêmica norte-americana e assinado por McCombs e Shaw), o paradigma apontava os meios de comunicação como detentores de poder, mas de forma reduzida e de efeitos limitados. Em mais de 20 anos de existência, a teoria do agendamento passou por uma grande evolução: seu conceito ganhou amplitude e complexidade, enquanto o poder da mídia conquistou reconhecimento.
A teoria do agendamento esteve na maior parte de sua existência ligada a campanhas políticas norte-americanas (onde surgiu o termo). Neste contexto, acredita-se que a mídia exercia papel fundamental na formação da opinião do eleitorado. O papel dos meios de comunicação se transformou em essencial na decisão de voto devido à crescente importância das questões discutidas nas campanhas políticas em detrimento da identificação partidária.
Embora a teoria dos “efeitos” tenham gerado pouco entusiasmo entre os pesquisadores europeus da comunicação, o grupo norte-americano do communication research se demonstrava interessado em compreender o paradigma. Os pesquisadores fizeram, então, seus primeiros estudos no campo da investigação da propaganda, durante e depois a I Guerra Mundial.
O trauma do grande conflito e as experiências totalitárias naquele período, paralelo ao surgimento de meios de comunicação massivos, promoveram a preocupação dos pesquisadores. A partir daí, surgiram paradigmas dos estudos dos “efeitos” , como a teoria hipodérmica – a qual defendia que as mensagens dos meios de comunicação tinham impacto direto nas pessoas, produzindo comportamentos previsíveis.
Durante os anos 40, novos métodos de coleta de informações e análises produziram conclusões que contradiziam a teoria hipodérmica. Lazarsfeld, por exemplo, após estudos de campo, afirmou que a mídia oferecia efeitos limitados nas campanhas políticas. Para ele, a mensagem midiática entrava em conflito com as normas do grupo e era rejeitada. Depois, as pessoas consumiam as mensagens de forma seletiva. Este pensamento, dominante nos anos 60, foi chamado de a teoria dos “efeitos limitados”.
Representando um regresso à problemática dos efeitos, a teoria do agendamento (agenda-setting) surgiu nos anos 70. Ao contrário da longa tradição do estudo dos efeitos em analisar a mudança de atitudes e opiniões, o trabalho de McCombs e Shaw visava examinar o papel dos media na formação e mudança de cognições.
De acordo com Traquina, a teoria foi inicialmente avançada nas conclusões de um estudo publicado em 1972, cujo trabalho de campo foi realizado nas eleições norte-americanas de 1968. A amostra baseou-se em cem eleitores indecisos, considerados os mais abertos e suscetíveis à mudança de opinião e de posicionamento sobre a política. A agenda pública de questões eleitorais destes cidadãos era medida agregando suas respostas a uma questão de enquadramento sobre os assuntos que mais os preocupavam naquele momento. O maior número de menções era utilizado para indexar a agenda política.
Com o desenvolvimento das primeiras pesquisas na área, McCombs e Shaw abriram novas linhas de investigação. De acordo com Rogers, Dearing e Bregman (apud Traquina, 2000), a literatura do agendamento abarca três áreas: os estudos da agenda midiática, os estudos da agenda pública e os estudos sobre a agenda política governamental. Para os autores, o processo é definido da seguinte forma:



Para Traquina (2000), a agenda midiática dos estudos de agendamento é, de fato, a agenda dos media noticiosos e do jornalismo. Na perspectiva de uma teoria da notícia, a análise do campo jornalístico que Molotch e Lester (1974) apresentam possuem três categorias de pessoas, posicionadas de forma diferente: os promotores de notícia, os news assemblers (aqueles que transformam ocorrências em acontecimentos públicos) e os consumidores de notícias. Para o agendamento, os consumidores são os indivíduos sujeitos às ações da mídia, os news promoters são os responsáveis por promover a agenda política do governo e os news assemblers determinam a agenda jornalística.
Na luta política, foco principal do estudo, percebeu-se que o objetivo consistia em fazer coincidir as suas necessidades de acontecimento com as dos profissionais do campo jornalístico. Os próprios jornalistas podem ser promotores de notícias, com suas investigações e reportagens. Como, quem e sobre que assuntos influenciam são algumas das questões desta linha de investigação.
Na constituição da agenda jornalística, o autor aponta variáveis determinantes:
1) a atuação dos jornalistas e os critérios de noticiabilidade que utilizam;
2) a ação estratégica para promover a notícia e os recursos de possuem para mobilizar o campo jornalístico.

Na verdade, as notícias são denominadas como construções narrativas, histórias, uma realidade seletiva. É preciso reconhecer quais os acontecimentos possuem valor como notícia. Após este reconhecimento, o jornalista precisa orientar-se para elaborar a notícia. O saber da narração consiste em compilar todas essas informações e transforma-las em mensagens. A construção da notícia exige a utilização de enquadramentos, um conceito aplicado por Ervin Goffmann à forma como são organizadas a vida e as situações sociais. É um dispositivo interpretativo de seleção.
Traquina (2000) afirma que para McCombs e Shaw, o agenda-setting é mais do que produzir notícias sobre o que pensar. Tanto a seleção de objetos que despertam a atenção quanto os enquadramentos são essenciais para o agendamento. A mídia só diz o que pensar, e não como pensar.
Em uma vertente da evolução da teoria do agendameto, o autor cita Behr e Iyengar. Os pesquisadores concluíram que a agenda jornalística é imune às mudanças da agenda pública enquanto a influência da agenda jornalística sobre a agenda pública é imediata. São estes autores os responsáveis pela idéia de que o agendamento funciona mais nas pessoas que participam mais, pois a necessidade de orientação tem a ver com o alto interesse e grau de incerteza. Além disso, foi confirmado que o impacto do agendamento não é igual a todos e depende da necessidade de orientação e da natureza do assunto.
Para Traquina (2000), a teoria do agendamento funciona como uma redescoberta do poder do jornalismo, no qual o jornalista se transforma em construtor da realidade. Neste caso, só a cegueira permitiria pensar que o trabalho do profissional limita-se à identificação dos fatos ou as escolhas sobre o que transmitir.
Em uma realidade em que as informações veiculadas pelos meios de comunicação algumas vezes são as únicas recebidas pela população, os eleitores adquirem conhecimentos através destas informações. E a teoria ajuda a compreender o papel do jornalismo hoje.


O estudo do jornalismo no século XX

Capítulo 1: A redescoberta do poder do jornalismo
“A capacidade da mídia em influenciar a projeção dos acontecimentos na opinião pública confirma o seu importante papel na figuração da nossa realidade social, isto é, de um pseudo-ambiente, fabricado e montado quase completamente a partir dos mass media (McCombs e Shaw, 1972)”.

Depois de 30 anos da teorização de McCombs e Shaw, Traquina faz em sua obra uma análise da evolução do agendamento. Tendo em vista que o agenda-setting tem relação direta com eleições presidencias nos EUA nos anos 70, o autor identifica duas mudanças no conceito: a crescente complexidade do conceito inicial e o reconhecimento mais claro do poder midiático imaginado naquela década.
Com estes conceitos, Traquina traça sua análise:

Ø Os estudos sobre “efeitos” de Shaw e McCombs não foram novidade em 1972. Em 1963 já havia a teoria hipodérmica, a qual pregava que “cada indivíduo é um átomo isolado, que reage isoladamente às ordens e às sugestões dos meios de comunicação de massa monopolizados” (Wright Mills). O nazismo, por exemplo, enquanto manifestação político-social, dava créditos a este tipo de pensamento.

Ø Além disso, os estudos de Lazarsfeld já cogitavam uma absorção racional/parcial por parte do receptor: “Primeiro, se a mensagem entra em conflito com as normas do grupo, a mensagem será rejeitada. Segundo, as pessoas consomem as mensagens midiáticas de forma seletiva” (Traquina, 2000, p.16). Este pensamento deu origem a teoria dos efeitos limitados, a qual acredita que a mídia não impõe ou muda atitudes do cidadão, apenas cristaliza suas ideologias já existentes.

Ø Observando as evoluções dos últimos 60 anos, Traquina (2001) notou que as análises mais recentes destoavam da matriz pensada por McCombs. Tanto que diz parecer óbvia a conclusão de que, no início do século 21, não se avançará na questão do agendamento sem estudar o jornalismo como um fazer diário e concreto – levando em consideração a relação repórter/fonte.

Ø Para o autor, “torna-se insustentável negar o papel ativo do jornalista na construção da realidade social. Só a cegueira provocada pela ideologia jornalística pode explicar que alguns jornalistas insistam em pretender que o seu trabalho se limite à identificação dos fatos e à simples recolha e transmissão de relatos”.

Capítulo 2: Teorias da Notícia – o Estudo do Jornalismo no Século XX

O autor cita que, para alguns estudiosos, a cibermídia estaria fazendo do jornalista uma espécie em extinção. Traquina considera muito precoce este tipo de projeção catastrófica para a classe. Mas alerta que talvez seja o momento de fazer um balanço sobre o estudo do jornalismo que foi desenvolvido no século passado.

Neste balanço, o jornalismo é analisado desde o início do século. Em 1918, Max Weber escreveu sobre notícias, sendo seguido em 1922 por Robert Park. No mesmo ano, Walter Lippmann publicou o livro Opinião Pública, no qual já se referia aos meios de comunicação a função de principal elo entre os fatos e as imagens destes acontecimentos na mente de cada um. Para Traquina, este foi o nascedouro, a inspiração para McCombs formular 50 anos depois a teoria do agenda-setting.
Em 1950, David White batiza um estudo de gatekeeper, originando uma das tradições mais persistentes na pesquisa sobre notícias. A teoria do gatekeeper prega que o processo de produção das notícias é conhecido como uma série de escolhas, onde um fluxo de notícias tem de passar por diversos “portões” (gates), que são momentos de decisão em relação aos quais o gatekeeper (o jornalista) tem de decidir se vai escolher ou não essa notícia. Esta análise, que vingou nas décadas de 60 e 70, vislumbrada ainda na de 90, era baseada em estudos quantitativos e análise de conteúdo.
Entre as décadas de 70 e 80, surge um grupo de estudiosos reunidos sobre o tema Estudos da Parcialidade, que partem do pressuposto de que a notícia deve refletir a realidade sem distorção. Linhas divergentes surgiram a partir desta definição. De um lado, Lichter e Rothman (1986) argumentam que os jornalistas constituem uma classe com claras parcialidades políticas que distorcem as notícias para a propagação de opiniões anticapitalistas. De outro, Chomsky e Hermann (1979) argumentavam que a cobertura jornalística é distorcida pela subordinação dos mídia aos interesses das elites políticas e econômicas dos EUA. Ao menos, ambas linhas ratificam um pensamento conhecido na década de 70: a perspectiva da notícia como distorção.
Em resumo, as teorias que vingaram no século 20 são classificadas como:

1. Espelho
A mais antiga das teorias. Para ela, o jornalista é um comunicador desinteressado, que limita-se a reproduzir os fatos sem opinar ou refletir. Agências internacionais defenderam por longo tempo a lógica do espelho.


2. Gatekeeper
Analisa as notícias apenas a partir de quem a produz: o jornalista. Aborda apenas o indivíduo e seu poder de seleção dos fatos, ignorando quaisquer fatores sociológicos ou de mercado, externos ao seu lugar de trabalho.

3. Organizacional
O jornalismo depende do constrangimento a que o repórter é submetido em seu ambiente de trabalho. Prega que o jornalista conforma-se com as regras editorias e políticas da empresa a qual é funcionário e está preocupado mais com recompensas ou punições. O repórter escreve para agradar ao chefe e não ao leitor.

4. Ação Política
A mídia é vista como uma forma instrumentalista, servindo a certos interesses políticos. Na versão da esquerda, a mídia sustenta o capitalismo (Chomsky). Na visão da direita, a mídia se opõe ferrenhamente ao capitalismo. Direita e esquerda concordam numa coisa: as notícias são distorções sistemáticas que servem a agentes políticos.

5. Estruturalista
Vertente da teoria da ação política vista pela esquerda. Apesar de ratificar que há na mídia a reprodução de uma “ideologia dominante”, os estruturalistas admitem que os jornalistas têm uma autonomia. Há valores-notícias e fontes sem interesses políticos.

6. Etnoconstrucionista
Nesta teoria, os jornalistas vivem sob a tirania do relógio. O tempo é o senhor do produto final, que é a transformação diária da matéria-prima em notícia de jornal, rádio ou TV.

Capítulo 3: Jornalismo Cívico – Reforma ou Revolução?

Usa ações efetivas para melhorar as condições de vida do leitor. Segundo o jornalista David Merret, “somente jornalistas livres e independentes podem providenciar o bem público. O jornalismo tem ignorado as suas obrigações para com a vida pública e esta falência tem sido um contribuinte para o atual mal-estar do cidadão”.

Ele defende que o jornalismo cívico vai além da missão de noticiar, trocando o papel de observador desprendido para assumir a função de participante justo. Traquina contrapõe-se ao questionar: “Será realista tanto otimismo quanto à capacidade de mudança duma profissão tão marcada por rotinas e práticas, condicionada ao tempo e ao espaço? Será realista defender a posição que a existência de cidadãos conscientes depende do jornalismo?”

Capítulo 4 – Quem vigia o quarto poder?

O autor sintetiza seu livro colocando duas pressupostas características dos mass media que são conflitantes: a busca pelo lucro e a responsabilidade social. O autor avança concluindo que a liberalização econômica desfoca a mídia dos interesses sociais/humanos na essência. Por fim, apela para que proprietários e profissionais da mídia relembrem suas obrigações de defender a liberdade positiva da imprensa – dar aos cidadãos informações justas e significativas. E cabe ao cidadão vigiar e exigir tal comportamento.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TRAQUINA, Nelson. O poder do Jornalismo – análise e textos da Teoria do Agendamento. Coimbra: Minerva, 2000. 146 p.

__________________. O estudo do jornalismo no século XX. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2001