Por Márcia Detoni
A história das rádios comunitárias no Brasil está ligada ao surgimento das rádios livres, na década de 1970, época em que os meios de comunicação de massa estavam predominantemente nas mãos de pessoas ou grupos ligados ao poder
A primeira rádio livre de que se tem conhecimento foi a Paranóica, de Vitória-ES, inaugurada em outubro de 1970 por um adolescente de 16 anos, Eduardo Luiz Ferreira da Silva, amante de eletrônica. A emissora tocava músicas e fazia críticas a figuras da cidade, mas foi logo desativada. Eduardo e seu irmão de 15 anos, que ajudava nas transmissões, chegaram a ser presos sob acusação de subversão no auge da repressão militar.
Em 1976 foi a vez da Rádio Spectro, montada por outro adolescente, agitar a cidade de Sorocaba. O garoto de 14 anos transmitia duas horas por dia, recebendo até 20 telefonemas diários de ouvintes. Terra de muitos técnicos e estudantes de eletrônica, Sorocaba chegou a ter, segundo a imprensa local, cerca de 40 emissoras livres no início da década de 1980. A brincadeira acabou sendo interrompida pela ação das autoridades, mas não sem antes contagiar outros locais.
Em 1985, a capital paulista contava com dezenas de emissoras clandestinas e até com uma "cooperativa de rádio-amantes". Em um primeiro momento, as rádios livres eram uma iniciativa de jovens cansados da mesmice das FMs oficiais. Estavam interessados apenas em rock e na arte da radiofonia. Na década de 1980, com a ditadura militar dando sinais de esgotamento, começaram a surgir emissoras críticas à centralização dos meios de comunicação.
Segundo um pequeno manifesto da Cooperativa dos Rádio-Amantes de São Paulo, a intenção do grupo era promover uma reforma no espectro
radiofônico: "Iniciamos um movimento de reforma agrária no ar. O rádio é uma conquista técnica da humanidade e não pode ficar nas mãos [...] de proprietários-concessionários".
A Rádio Xilik, inaugurada em julho de 1985 no campus da PUCSP por alunos de ciências sociais, é o símbolo desse movimento pela democratização da comunicação. Os fundadores da emissora (Caio Magri, Arlindo Machado e Marcelo Masagão) foram fortemente influenciados por experiências européias de rádios piratas, principalmente as da Itália e da França.
Embora em número bem menor, também há registros nessa época de rádios livres fazendo transmissões com cunho essencialmente político. Os bancários de São Paulo colocaram no ar, em 1985, a Rádio Tereza, com 120 Watts de potência. Tereza é a corda que os prisioneiros fazem com os lençóis para fugir da cadeia. O nome foi escolhido simbolicamente, como uma tentativa de fuga da "cadeia global" que domina a comunicação.
A década de 1980 também representou o apogeu, no País, das rádios de alto-falantes, as chamadas "rádio-corneta", "rádio-poste", ou "rádio popular", o meio que muitas comunidades encontraram para levar suas mensagens aos moradores locais.
Na zona leste de São Paulo, essas emissoras começaram a surgir em
1983 e, em 1988, havia 42 delas. Aos poucos, no entanto, as "rádios-corneta" entraram em declínio e começaram a surgir as emissoras comunitárias propriamente ditas, sob a constante repressão da Polícia Federal e do Departamento Nacional de Telecomunicações - DENTEL, substituído pela Agência Nacional de Telecomunicações - ANATEL, empenhados em apreender equipamentos e fechar as emissoras, muitas vezes prendendo os responsáveis e levando-os a julgamento.
Os primeiros registros de emissoras livres operando com caráter fortemente comunitário são de 1990. Na época, destacam-se a atuação da Rádio Livre Paulicéia, em Piracicaba-SP, que operou de julho de 1990 a abril de 1992, e a Rádio Novos Rumos, surgida em dezembro de 1990 em Queimados, município da Baixada Fluminense (RJ).
A Paulicéia, com 10 Watts de potência, era de propriedade dos moradores e gerida por um conselho coordenador escolhido por voto.
Atuava com base em uma assembléia composta de 120 pessoas que debatia o papel da emissora e sua programação. Não tinha fins lucrativos e contava com a participação intensa da comunidade tanto nas decisões como na produção de programas, recebendo de 30 a 40 telefonemas diários com sugestões, recados e perguntas. Cedia espaços para católicos (pastoral da juventude, movimento carismático), evangélicos, crianças, grupos de desempregados, grupos musicais, etc. No ar por até 120 horas semanais, chegou a ser a emissora mais ouvida da cidade. Mas foi fechada pela Polícia Federal.
A Novos Rumos também surgiu com caráter fortemente comunitário e, depois de ter sido fechada várias vezes, é hoje uma das mais ouvidas em Queimados. O estatuto da emissora garante a todo cidadão o direito de voz na programação. As diretrizes da emissora são elaboradas em assembléias semestrais com os associados, mas quem conduz a rádio no dia-a-dia é um conselho executivo de cinco membros. Os associados, cerca de 800, pagam uma mensalidade simbólica, mas as principais fontes de receita são os comerciais e prestação de serviços de áudio para terceiros.
Em 1995, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, anúncia a intensão de formar uma comissão para elaborar uma proposta de regulamentação para as emissoras de baixa potência em todo o País. Isso estimula o surgimento de centenas de novas rádios, que começam a formar organizações para a defesa de suas emissoras.
A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias - ABRAÇO é criada em
1996 para organizar e representar as emissoras de baixa potência.
Este Blog é destinado aos estudantes da Faculdade de Comunicação da PUCRS, curso de Jornalismo, e para os estudantes de Pós-Graduação.
MUITO PRAZER
Agradeço sua visita em meu blog e desejo que lhe seja útil. Se precisar de algum tipo de orientação acadêmica, estou à disposição na Faculdade de Cmunicação Social da PUCRS/Porto Alegre.
Thursday, September 22, 2005
DESENVOLVIMENTO DA RADIODIFUSÃO COMUNITÁRIA NO BRASIL
Por Márcia Detoni
A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias - ABRAÇO é criada em 1996 para organizar e representar as emissoras de baixa potência. Ela e outras entidades, como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, passam a organizar encontros sobre radiodifusão livre e comunitária e contribuem na elaboração das propostas de lei apresentadas no Congresso Nacional para a legalização das emissoras comunitárias. Em fevereiro de 1998, o Congresso Nacional aprova a Lei nº 9.612/98 instituindo o Serviço de Rádio Comunitária. Apesar de representar um avanço por finalmente regularizar o segmento, a lei impõe uma série de restrições que, segundo os representantes das rádios comunitárias, praticamente inviabilizam a atuação das emissoras:
- só permite a operação de emissoas com até 25 Watts de potência e antena inferior a 30 metros, o que restringe o alcance em áreas de alta densidade urbana ou cercadas por montanhas;
- autoriza o funcionamento de apenas uma rádio por vila ou bairro, sem levar em conta o tamanho da população;
- obriga todas as emissoras a operar na mesma freqüência, impedindo a coexistência de rádios comunitárias em bairros próximos;
- proíbe a formação de redes;
- proíbe a propaganda.
A única forma de patrocínio permitida é o apoio cultural, o que dificulta a obtenção de recursos para a manutenção de equipamentos, compra de discos, produção de programas, pagamento de funcionários. As restrições legais à radiodifusão comunitária são o resultado da pressão da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT, patronal, sobre o governo e o Congresso. Desde meados da década de 1990, a ABERT desenvolve intensa campanha contra as rádios comunitárias temendo perder audiência e receita publicitária em um universo radiofônico cada vez maior e mais variado. O papel das rádios comunitárias não é, no entanto, disputar mercado com as emissoras convencionais públicas ou privadas. As emissoras de baixa potência são apenas uma opção a mais no universo midiático e surgem para suprir uma lacuna existente nas emissões tradicionais. Seu principal objetivo é proporcionar à comunidade a possibilidade de acesso aos meios de comunicação, além de uma programação de cunho social que não encontra espaço nas demais emissoras.
A Associação Brasileira de Rádios Comunitárias - ABRAÇO é criada em 1996 para organizar e representar as emissoras de baixa potência. Ela e outras entidades, como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, passam a organizar encontros sobre radiodifusão livre e comunitária e contribuem na elaboração das propostas de lei apresentadas no Congresso Nacional para a legalização das emissoras comunitárias. Em fevereiro de 1998, o Congresso Nacional aprova a Lei nº 9.612/98 instituindo o Serviço de Rádio Comunitária. Apesar de representar um avanço por finalmente regularizar o segmento, a lei impõe uma série de restrições que, segundo os representantes das rádios comunitárias, praticamente inviabilizam a atuação das emissoras:
- só permite a operação de emissoas com até 25 Watts de potência e antena inferior a 30 metros, o que restringe o alcance em áreas de alta densidade urbana ou cercadas por montanhas;
- autoriza o funcionamento de apenas uma rádio por vila ou bairro, sem levar em conta o tamanho da população;
- obriga todas as emissoras a operar na mesma freqüência, impedindo a coexistência de rádios comunitárias em bairros próximos;
- proíbe a formação de redes;
- proíbe a propaganda.
A única forma de patrocínio permitida é o apoio cultural, o que dificulta a obtenção de recursos para a manutenção de equipamentos, compra de discos, produção de programas, pagamento de funcionários. As restrições legais à radiodifusão comunitária são o resultado da pressão da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão - ABERT, patronal, sobre o governo e o Congresso. Desde meados da década de 1990, a ABERT desenvolve intensa campanha contra as rádios comunitárias temendo perder audiência e receita publicitária em um universo radiofônico cada vez maior e mais variado. O papel das rádios comunitárias não é, no entanto, disputar mercado com as emissoras convencionais públicas ou privadas. As emissoras de baixa potência são apenas uma opção a mais no universo midiático e surgem para suprir uma lacuna existente nas emissões tradicionais. Seu principal objetivo é proporcionar à comunidade a possibilidade de acesso aos meios de comunicação, além de uma programação de cunho social que não encontra espaço nas demais emissoras.
RÁDIOS COMUNITÁRIAS: REVOLUÇÃO NO AR
Por Márcia Detoni
Do topo das grandes favelas brasileiras aos pequenos municípios do semi-árido brasileiro, as rádios comunitárias estão modificando o panorama das comunicações no País. Os dados revelam um crescimento gigantesco, na última década, das transmissões de rádio em todo o País, restrito, até então, à programação das cerca de 3.500 emissoras privadas e públicas autorizadas a figurar no dial. Mas, mais que um salto numérico, o boom de emissoras comunitárias evidencia a redescoberta do potencial do rádio como meio de comunicação e de democratização da informação, um fenômeno que vem ocorrendo não só no Brasil, mas em todo o mundo em desenvolvimento.
Em plena era da Internet, a mais antiga das tecnologias de comunicação é o que há de mais revolucionário. Enquanto a maioria das pessoas do mundo ainda está longe de chegar perto de um computador, novas emissoras brotam em todos os cantos do mundo em desenvolvimento. À medida que as ditaduras caem e a democracia se fortalece, os governos flexibilizam a concessão de freqüências e a própria população se apodera do rádio como veículo de expressão de suas culturas e anseios, fazendo dele um instrumento de inclusão e de desenvolvimento local.
Infelizmente, como reconhece a própria ABRAÇO, a maioria das emissoras de baixa potência que se intitulam comunitárias no Brasil não cumpre um papel social. Elas têm, de maneira geral, um cunho religioso, eleitoral ou comercial e reproduzem a lógica e a programação das emissoras privadas. Tais distorções não invalidam, no entanto, a importância da regulamentação da radiodifusão comunitária no País. Ao contrário. A legislação precisa ser aperfeiçoada para que esse tipo de emissora cumpra, de fato, o papel a que se propõe. Uma verdadeira rádio comunitária, de acordo com a definição teórica, tem algumas características de programação e de gerenciamento que a diferenciam de forma significativa das emissoras comerciais e mesmo das emissoras públicas ou estatais:
* programação voltada para os problemas e realidades do bairro ou região, que valorize a cultura local e tenha um forte compromisso com a educação para a cidadania;
* participação direta da população ao microfone e na produção dos programas;
* participação da comunidade no gerenciamento e na definição dos programas da emissora por meio de assembléias coletivas;
* finalidade não-lucrativa.
Os recursos para o funcionamento da emissora são arrecadados através de apoio cultural e de contribuições da comunidade. Os estudiosos da radiodifusão comunitária tendem a ser rígidos na conceituação desse tipo de emissora, mas a AMARC (Associação Mundial das Rádios Comunitárias) adota um conceito flexível e mais próximo da realidade de suas afiliadas, muitas das quais não têm, por exemplo, o gerenciamento participativo ou dependem da venda de anúncios comerciais:
Quando uma rádio promove a participação dos cidadãos e defende seus interesses; quando responde aos gostos da maioria e faz do bom humor e da esperança sua primeira proposta; quando informa de forma veraz; quando ajuda a resolver os mil e um problemas da vida cotidiana; quando em seus programas se debatem todas as idéias e se respeitam todas as opiniões; quando se estimula a diversidade cultural e não a homogeneização mercantil; quando a mulher protagoniza a comunicação e não é apenas uma simples voz decorativa ou um anúncio publicitário; quando não se tolera nenhuma ditadura, nem sequer a musical imposta pelas gravadoras; quando a palavra de todos voa sem discriminação, sem censuras, essa é uma rádio comunitária.
Para o autor e pesquisador boliviano Alfonso Gumuncio Dragon, mesmo a mais precária das emissoras de baixa potência com uma programação totalmente musical inicia um processo de transformação em sua comunidade. Ela contribui para criar um sentimento de unidade, de solidariedade e de pertencimento, que é essencial ao desenvolvimento.
A presença de uma emissora comunitária mesmo que não totalmente participativa, tem um efeito imediato na população. Pequenas emissoras geralmente começam a transmitir música na maior parte do dia, tendo assim um impacto na identidade cultural e no orgulho da comunidade. O próximo passo, geralmente associado à programação musical, é transmitir anúncios e dedicatórias, que contribuem para o fortalecimento das relações sociais locais. Quando a estação cresce em experiência e qualidade, começa a produção local de programas sobre saúde ou educação. Isso contribui para a divulgação de informações sobre questões importantes que afetam a comunidade.
Um bom exemplo desse processo é a própria Rádio Favela FM, de Belo Horizonte, reconhecida internacionalmente por sua atuação comunitária. A emissora surgiu na década de 1980 com uma programação exclusivamente musical. Hoje, investe forte também em conteúdo e já ganhou dois prêmios da ONU por sua contribuição ao combate ao tráfico de drogas, à violência e ao racismo. Na Favela FM se ouve um pouco de tudo, desde debates sobre direitos humanos ou abuso sexual, até críticas ao governo e histórias infantis. Portanto, entre milhares de emissoras de baixa potência que hoje não se enquadram no conceito teórico e legal de rádio comunitária pode haver sementes que, se frutificadas, levarão a uma comunicação democrática e plural, que ofereça amplas possibilidades de expressão e desenvolvimento a suas comunidades.
Cabe a associações como a AMARC e a ABRAÇO, às organizações não-governamentais e às universidades contribuir com esse processo, ajudando na capacitação das emissoras comunitárias, para que, em médio prazo, possam vir a pôr no ar uma programação criativa, com relevância de conteúdo e qualidade técnica.
Do topo das grandes favelas brasileiras aos pequenos municípios do semi-árido brasileiro, as rádios comunitárias estão modificando o panorama das comunicações no País. Os dados revelam um crescimento gigantesco, na última década, das transmissões de rádio em todo o País, restrito, até então, à programação das cerca de 3.500 emissoras privadas e públicas autorizadas a figurar no dial. Mas, mais que um salto numérico, o boom de emissoras comunitárias evidencia a redescoberta do potencial do rádio como meio de comunicação e de democratização da informação, um fenômeno que vem ocorrendo não só no Brasil, mas em todo o mundo em desenvolvimento.
Em plena era da Internet, a mais antiga das tecnologias de comunicação é o que há de mais revolucionário. Enquanto a maioria das pessoas do mundo ainda está longe de chegar perto de um computador, novas emissoras brotam em todos os cantos do mundo em desenvolvimento. À medida que as ditaduras caem e a democracia se fortalece, os governos flexibilizam a concessão de freqüências e a própria população se apodera do rádio como veículo de expressão de suas culturas e anseios, fazendo dele um instrumento de inclusão e de desenvolvimento local.
Infelizmente, como reconhece a própria ABRAÇO, a maioria das emissoras de baixa potência que se intitulam comunitárias no Brasil não cumpre um papel social. Elas têm, de maneira geral, um cunho religioso, eleitoral ou comercial e reproduzem a lógica e a programação das emissoras privadas. Tais distorções não invalidam, no entanto, a importância da regulamentação da radiodifusão comunitária no País. Ao contrário. A legislação precisa ser aperfeiçoada para que esse tipo de emissora cumpra, de fato, o papel a que se propõe. Uma verdadeira rádio comunitária, de acordo com a definição teórica, tem algumas características de programação e de gerenciamento que a diferenciam de forma significativa das emissoras comerciais e mesmo das emissoras públicas ou estatais:
* programação voltada para os problemas e realidades do bairro ou região, que valorize a cultura local e tenha um forte compromisso com a educação para a cidadania;
* participação direta da população ao microfone e na produção dos programas;
* participação da comunidade no gerenciamento e na definição dos programas da emissora por meio de assembléias coletivas;
* finalidade não-lucrativa.
Os recursos para o funcionamento da emissora são arrecadados através de apoio cultural e de contribuições da comunidade. Os estudiosos da radiodifusão comunitária tendem a ser rígidos na conceituação desse tipo de emissora, mas a AMARC (Associação Mundial das Rádios Comunitárias) adota um conceito flexível e mais próximo da realidade de suas afiliadas, muitas das quais não têm, por exemplo, o gerenciamento participativo ou dependem da venda de anúncios comerciais:
Quando uma rádio promove a participação dos cidadãos e defende seus interesses; quando responde aos gostos da maioria e faz do bom humor e da esperança sua primeira proposta; quando informa de forma veraz; quando ajuda a resolver os mil e um problemas da vida cotidiana; quando em seus programas se debatem todas as idéias e se respeitam todas as opiniões; quando se estimula a diversidade cultural e não a homogeneização mercantil; quando a mulher protagoniza a comunicação e não é apenas uma simples voz decorativa ou um anúncio publicitário; quando não se tolera nenhuma ditadura, nem sequer a musical imposta pelas gravadoras; quando a palavra de todos voa sem discriminação, sem censuras, essa é uma rádio comunitária.
Para o autor e pesquisador boliviano Alfonso Gumuncio Dragon, mesmo a mais precária das emissoras de baixa potência com uma programação totalmente musical inicia um processo de transformação em sua comunidade. Ela contribui para criar um sentimento de unidade, de solidariedade e de pertencimento, que é essencial ao desenvolvimento.
A presença de uma emissora comunitária mesmo que não totalmente participativa, tem um efeito imediato na população. Pequenas emissoras geralmente começam a transmitir música na maior parte do dia, tendo assim um impacto na identidade cultural e no orgulho da comunidade. O próximo passo, geralmente associado à programação musical, é transmitir anúncios e dedicatórias, que contribuem para o fortalecimento das relações sociais locais. Quando a estação cresce em experiência e qualidade, começa a produção local de programas sobre saúde ou educação. Isso contribui para a divulgação de informações sobre questões importantes que afetam a comunidade.
Um bom exemplo desse processo é a própria Rádio Favela FM, de Belo Horizonte, reconhecida internacionalmente por sua atuação comunitária. A emissora surgiu na década de 1980 com uma programação exclusivamente musical. Hoje, investe forte também em conteúdo e já ganhou dois prêmios da ONU por sua contribuição ao combate ao tráfico de drogas, à violência e ao racismo. Na Favela FM se ouve um pouco de tudo, desde debates sobre direitos humanos ou abuso sexual, até críticas ao governo e histórias infantis. Portanto, entre milhares de emissoras de baixa potência que hoje não se enquadram no conceito teórico e legal de rádio comunitária pode haver sementes que, se frutificadas, levarão a uma comunicação democrática e plural, que ofereça amplas possibilidades de expressão e desenvolvimento a suas comunidades.
Cabe a associações como a AMARC e a ABRAÇO, às organizações não-governamentais e às universidades contribuir com esse processo, ajudando na capacitação das emissoras comunitárias, para que, em médio prazo, possam vir a pôr no ar uma programação criativa, com relevância de conteúdo e qualidade técnica.
Monday, September 12, 2005
Fidelidade dos leitores e anunciantes garantirá crescimento da imprensa de bairro
"... uma parceria de mais de 20 anos com os jornais comunitários, que mesmo com muitas dificuldades comerciais, e até mesmo operando no vermelho, continuam resistindo."
"No início dos anos 90, ZH fez o mesmo e pouco depois desistiu do projeto, sem consultar a comunidade, deixando apenas a frustração de não ter levado a cabo as promessas editoriais."
Por Beatriz Dornelles
O jornal Zero Hora surpreendeu a todos, jornalistas e comunidades de bairro, ao anunciar que estaria lançando em agosto quatro cadernos de bairro: no dia 5, Bom Fim (mais Santana e parte de Rio Branco); no dia 12, Moinhos de Vento (mais Auxiliadora. Independência, Floresta e parte de Rio Branco); no dia 19, Bela Vista (mais Mont' Serrat, Três Figueiras e Boa Vista) e dia 26 Zona Sul (Ipanema. Tristeza, Sétimo Céu, Assunção e Vila Conceição). Em entrevista ao site Coletiva.Net, o presidente da Associação dos Jornais de Bairro e Segmentados de Porto Alegre -Rede Jornal, Roberto Corrêa Gomes, declarou que estranhou a iniciativa de ZH, já que todos os bairros em que serão lançados os cadernos já têm jornais sólidos, com circulação plena e estão totalmente envolvidos com as regiões representadas.
O estranhamento do presidente não é à toa. Já no inicio dos anos 90, a Zero Hora fez a mesma coisa e poucos meses depois desistiu do projeto, sem nenhuma consulta à comunidade, deixando apenas a frustração de não ter levado a cabo as promessas editoriais realizadas antes do lançamento do projeto. Ou seja, não houve nenhum comprometimento por parte de Zero Hora com os problemas sociais e reivindicações das diversas comunidades de Porto Alegre. Nesta segunda investida, apresentada ao público no dia 5 de agosto, ZH destacou apenas um repórter para realizar as reportagens e acompanhar as atividades e reuniões das quatro áreas. O mesmo profissional precisa fazer as fotografias, pois não foram designados fotógrafos para a cobertura de fatos dos bairros. Há, ainda, um editor e um diagramador. As mesmas áreas contam com a presença de cerca de 20 jornalistas dos jornais de bairro que circulam nas regiões selecionadas pela Zero Hora.
Esta postura nos leva a acreditar que o objetivo deste jornal e prioritariamente comercial. Tal julgamento baseia-se também numa análise editorial dos cadernos de Zero Hora. Eles não apresentam nenhuma novidade editorial, ao contrário, copia o que já está sendo praticado pêlos jornais de bairro de Porto Alegre. Aliás, com tantos profissionais competentes e criativos, não haveria necessidade de repetir as propostas editorias dos jornais já existentes.
Por exemplo, praticamente todos os jornais de bairro, e alguns segmentados, há mais de 20 anos têm seções para contar a história das ruas, praças e prédios do local. Desde os anos 90, os jornais de bairro ampliaram a aproximação com as associações de moradores, com os lideres comunitários e com a população em geral.
A seção de cartas é uma tradição em praticamente todos os jornais em circulação. Entrevista com lideranças, artistas, empresários. trabalhadores do bairro foi uma das primeiras propostas postas em prática pelo jornal Oi!, no Menino Deus. O tema envolvendo o meio ambiente tem sido uma luta constante do Já, Folha 3, Bela Vista, Jorna-lecão. Fala! São João, além de todos os outros que também dão ampla cobertura aos movimentos que envolvem o setor.
As atividades comunitárias da Brigada Militar foram acompanhadas desde o inicio (década de 90) por todos os jornais de bairro. Seções dirigidas a crianças e adolescentes também são iniciativas de alguns jornais de bairro, destacando-se o Folha 3, que desde suas primeiras edições dedica uma página para os adolescentes.
Divulgação de diferentes cultos e de religiões faz parte da pauta mensal de todos os jornais, bem como a cobertura de esporte local. Casamentos, batizados e mortes são temas de alguns jornais de bairro, há anos, como é o caso do Destak e do Zona Norte. Também a culinária ou gastronomia é um assunto que faz parte da tradição dos jornais.
Sendo esses os temas abordados pêlos cadernos de bairro de Zero Hora, não há nenhuma novidade apresentada, apenas uma cópia do que já é feito pêlos tradicionais jornais de bairro de Porto Alegre. A grande diferença está no fato dos jornalistas da imprensa de bairro estarem totalmente integrados nas atividades dos moradores dos bairros onde circulam e os profissionais de Zero Hora não terem nenhum afinidade com a vida comunitária dos bairros.
Não se pode deixar de destacar, também, que os cadernos de Zero Hora, que têm tabela de preços exclusiva, estão sendo comercializados com base nos preços dos jornais de bairro. Assim, concluímos que a motivação de Zero Hora para cobrir os bairros é comercial. Ou seja, ela pretende "conquistar" os anunciantes que tradicionalmente anunciam na imprensa de bairro. Essa postura é altamente danosa para comunidade. Por isso acredito que os 34 jornais de bairro de Porto Alegre mais os cerca de 20 jornais segmentados devem fazer uma campanha de esclarecimento, de forma que a comunidade e os anunciantes tenham elementos para se posicionar: ou abandonam uma parceria de mais de 20 anos com os jornais comunitários para apoiar uma novidade que, se apresentar dificuldades comerciais, pode acabar a qualquer momento, ou continuam apoiando a mídia comunitária, que mesmo com muitas dificuldades comerciais e até mesmo operando no vermelho continuam resistindo. O que não pode ser ignorado é a ganância e a concorrência desleal, praticada pela imprensa de massa, pois os pequenos jornais comunitários não contam com nenhuma estrutura para enfrentar poderosas forças empresariais, a não ser com a lealdade dos moradores e a confiança dos anunciantes. Esperamos que estes sejam fiéis ao trabalho desenvolvido pêlos jornais de bairro ao longo dos últimos 20 anos.
Jornalista, professora com Doutorado em Jornalismo pela ECA/USP. c pesquisadora do Programa de Pós-Grauuaçâo da Famecos/PUCRS
Friday, September 02, 2005
Voluntário ou Obrigatório: O Balanço Social
A idéia da responsabilidade social não é nova, mas nos anos recentes tem contagiado as empresas. É cada vez maior o número de empresas que apresentam o Balanço Social por livre iniciativa. Uma das razões é a necessidade do setor privado de se aproximar dos clientes e conseqüentemente da comunidade local. Um dos caminhos para isso é abrir os olhos do mercado e apontar o que cada um pode fazer pelo social. O Balanço Social é isto mostrar com transparência o que faz cada um.
Neste aspecto as grandes empresas têm papel fundamental, pois representam os grandes investimentos, as grandes compras e a grande parcela dos consumidores. O Banco do Brasil é um exemplo desse papel. Sendo uma instituição que publica o seu Balanço, ele pode cobrar também dos seus fornecedores uma postura social diferenciada. "Existe entre empresas uma cadeia de relacionamento, é óbvio que se começar a colocar exigências isso vai mudar", explica o gerente da área de relação com o investidor do Banco do Brasil, Gilberto Lourenço.
Para não perder o trem da história o Congresso Nacional quer legislar sobre o assunto. Em Projeto de Lei, o senador, Ney Suassuna, quer uma prestação de contas sociais obrigatória por parte das empresas. Pelo projeto, junto a Declaração do Imposto de Renda, as empresas estariam obrigadas a declarar, em documento separado, o que investiu em patrocínios culturais, científicos e esportivos. "Isso tudo daria um maior controle por parte da sociedade dos impostos pagos ao governo, ao mesmo tempo em que valorizaria a própria empresa junto à sociedade", acredita Ney Suassuna. Para Gilberto Lourenço do BB, a obrigatoriedade de declarar ações sociais pode se tornar burocrática. "Questão social independe da lei, sociedade já se antecipou", conclui o gerente do banco.
Na verdade, assim como o Balanço Social, a idéia de uma legislação sobre o assunto não é nova. Desde 1977 a França tornou obrigatória a realização periódica de um Balanço.
No es nuevo el concepto de responsabilidad social, pero sólo recientemente las empresas han adherido a él. Gerisse cada vez más el número de empresas que presentan su Balance Social expontaneamente. Aproximarse a sus clientes y tener contacto más direto con la comunidad local, son razones para este comportamiento. Un camino directo para el mismo es abrirle los ojos al mercado e indicarle a cada uno qué puede hacer por 10 social. Esto es Balance Social, mostrar con transparencia 10 que cada uno hace.
En este aspecto las grandes empresas desempenan un rol preponderante, ya que representan las grandes inversiones, grandes compras y grandes fajas de consumidores. EI Banco del Brasil es un claro ejemplo de ese papel. Por tratarse de entidad oficial puede exigir de sus proveedores una postura social diferente. "Las empresas están atadas por eslabones en sus relaciones, y claro está, comenzando a exigir la situación tendrá que cambiar", comenta el gerente del área de relaciones con los inversores del Banco del Brasil, Gilberto Lourenço.
Para estar acorde con el momento el Gongreso Nacional quiere legislar sobre el asunto. Existe un Proyecto de Ley, presentado por el senador Ney Suassuna, obligando a las empresas a una rendición de cuentas sociares. Según el proyecto, las empresas en ocasião de la presentación de su Declaración de Impuesto a la Renta, se obligarían a declarar, por separado, las inversiones en patrocínios culturales, científicos y deportivos. "Tendría así la sociedad mecanismo de control sobre los impuestos pagados al gobierno, a la vez que se valorizaría la propia empresa ante ella", confía el Senador. Gilberto Lourenço dei BB, considera que esta obligatoriedad puede hacerse burocrática. "La cuestión social no depende de leyes, la sociedad llegó primero.
No Brasil a utilização do Balanço é mais recente. Mesmo assim, algumas iniciativas demonstraram a preocupação com.o assunto já na década de 80. a Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal situada na Bahia, realizado em 1984, é considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o nome de Balanço Social. No mesmo período, estava sendo realizado o Balanço do Sistema Telebras, publicado em meados da década de 80. Em 1988 surgia também a Fundação Banco do Brasil, que atualmente é um dos pontos mais fortes no Balanço do banco. É a fundação, por exemplo, responsável pelo projeto BBeducar, que já alfabetizou mais de 60 mil jovens e adultos com ajuda de voluntários e instrutores do BB.
Sobre a discussão em torno de uma lei para o Balanço Social existe uma unanimidade, as empresas terem saído na frente já é um tempo em que valorizaria a bom sinal, se a sociedade cobrar esse tipo de atitude antes que a lei o faça, será melhor ainda. A preocupação do Terceiro Setor com uma lei que obrigue a declaração do Balanço Social tem motivos para existir. Afinal, a história do país mostra que umas leis pegam, outras não. Para Ney Suassuna não há nada a perder com a obrigatoriedade do balanço, apenas a ganhar. A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, Ana Peliano, concorda com o gerente do Banco do Brasil. Ela acredita que o mais importante é uma cobrança direta da sociedade. a que, na opinião da pesquisadora, já está acontecendo. Seja qual for o caminho do projeto em discussão no senado, espera-se que a vitoriosa seja a sociedade.
Neste aspecto as grandes empresas têm papel fundamental, pois representam os grandes investimentos, as grandes compras e a grande parcela dos consumidores. O Banco do Brasil é um exemplo desse papel. Sendo uma instituição que publica o seu Balanço, ele pode cobrar também dos seus fornecedores uma postura social diferenciada. "Existe entre empresas uma cadeia de relacionamento, é óbvio que se começar a colocar exigências isso vai mudar", explica o gerente da área de relação com o investidor do Banco do Brasil, Gilberto Lourenço.
Para não perder o trem da história o Congresso Nacional quer legislar sobre o assunto. Em Projeto de Lei, o senador, Ney Suassuna, quer uma prestação de contas sociais obrigatória por parte das empresas. Pelo projeto, junto a Declaração do Imposto de Renda, as empresas estariam obrigadas a declarar, em documento separado, o que investiu em patrocínios culturais, científicos e esportivos. "Isso tudo daria um maior controle por parte da sociedade dos impostos pagos ao governo, ao mesmo tempo em que valorizaria a própria empresa junto à sociedade", acredita Ney Suassuna. Para Gilberto Lourenço do BB, a obrigatoriedade de declarar ações sociais pode se tornar burocrática. "Questão social independe da lei, sociedade já se antecipou", conclui o gerente do banco.
Na verdade, assim como o Balanço Social, a idéia de uma legislação sobre o assunto não é nova. Desde 1977 a França tornou obrigatória a realização periódica de um Balanço.
No es nuevo el concepto de responsabilidad social, pero sólo recientemente las empresas han adherido a él. Gerisse cada vez más el número de empresas que presentan su Balance Social expontaneamente. Aproximarse a sus clientes y tener contacto más direto con la comunidad local, son razones para este comportamiento. Un camino directo para el mismo es abrirle los ojos al mercado e indicarle a cada uno qué puede hacer por 10 social. Esto es Balance Social, mostrar con transparencia 10 que cada uno hace.
En este aspecto las grandes empresas desempenan un rol preponderante, ya que representan las grandes inversiones, grandes compras y grandes fajas de consumidores. EI Banco del Brasil es un claro ejemplo de ese papel. Por tratarse de entidad oficial puede exigir de sus proveedores una postura social diferente. "Las empresas están atadas por eslabones en sus relaciones, y claro está, comenzando a exigir la situación tendrá que cambiar", comenta el gerente del área de relaciones con los inversores del Banco del Brasil, Gilberto Lourenço.
Para estar acorde con el momento el Gongreso Nacional quiere legislar sobre el asunto. Existe un Proyecto de Ley, presentado por el senador Ney Suassuna, obligando a las empresas a una rendición de cuentas sociares. Según el proyecto, las empresas en ocasião de la presentación de su Declaración de Impuesto a la Renta, se obligarían a declarar, por separado, las inversiones en patrocínios culturales, científicos y deportivos. "Tendría así la sociedad mecanismo de control sobre los impuestos pagados al gobierno, a la vez que se valorizaría la propia empresa ante ella", confía el Senador. Gilberto Lourenço dei BB, considera que esta obligatoriedad puede hacerse burocrática. "La cuestión social no depende de leyes, la sociedad llegó primero.
No Brasil a utilização do Balanço é mais recente. Mesmo assim, algumas iniciativas demonstraram a preocupação com.o assunto já na década de 80. a Balanço Social da Nitrofértil, empresa estatal situada na Bahia, realizado em 1984, é considerado o primeiro documento brasileiro do gênero, que carrega o nome de Balanço Social. No mesmo período, estava sendo realizado o Balanço do Sistema Telebras, publicado em meados da década de 80. Em 1988 surgia também a Fundação Banco do Brasil, que atualmente é um dos pontos mais fortes no Balanço do banco. É a fundação, por exemplo, responsável pelo projeto BBeducar, que já alfabetizou mais de 60 mil jovens e adultos com ajuda de voluntários e instrutores do BB.
Sobre a discussão em torno de uma lei para o Balanço Social existe uma unanimidade, as empresas terem saído na frente já é um tempo em que valorizaria a bom sinal, se a sociedade cobrar esse tipo de atitude antes que a lei o faça, será melhor ainda. A preocupação do Terceiro Setor com uma lei que obrigue a declaração do Balanço Social tem motivos para existir. Afinal, a história do país mostra que umas leis pegam, outras não. Para Ney Suassuna não há nada a perder com a obrigatoriedade do balanço, apenas a ganhar. A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, Ana Peliano, concorda com o gerente do Banco do Brasil. Ela acredita que o mais importante é uma cobrança direta da sociedade. a que, na opinião da pesquisadora, já está acontecendo. Seja qual for o caminho do projeto em discussão no senado, espera-se que a vitoriosa seja a sociedade.
Atração por escândalos
Escandalosa. Ser ou não ser?
Eis a questão que desafia a imprensa européia. Na Inglaterra, dos tablóides
sensacionalistas, apesar dos ventos contrários que jornais como o Sun vêm enfrentando, a imprensa sensacionalista que explora escândalos - de preferência sexuais -. fofocas, faits divers e entretenimento continua com tiragens milionárias. O SW1, por exemplo, vende 3,7 milhões de exemplares. Já vendeu quatro milhões, mas os excessos cometidos na cobertura da morte da princesa Diana parecem ter deflagrado um certo descontentamento do público com a imprcnsa sensacionalista.
Este tipo de imprensa se beneficia das leis extremamente liberais existentes na Inglaterra e de urna interpretação bem ampla do que seria um código de ética por parte das entidades profissionais que congregam os jornalistas ingleses. Os leitores atraídos pelos jornais populares são basicamente jovens operários e funcionários não qualificados. principalmente do sexo masculino. Ainda não se pode falar em crise, mas o público da imprensa sensacionalista vem diminuindo, preferindo ver mais televisão ou mesmo comprar os jornais tradicionais que dedicam cada vez mais espaço para assuntos populares, esportes e entretenimento. A família real é um dos alvos prediletos da imprensa popular e são poucos os instrumentos jurídicos com que ela conta para proteger sua privacidade.
Na França, a situação é totalmente diferente. Leis muitas rígidas e um código de ética extremamente rigoroso garantem a privacidade dos cidadãos. A diferença entre o público e o privado é claramente delimitada e respeitada e as penas para quem cruza indevidamente a fronteira são pesadas, tanto financeira quanto juridicamente. Durante o governo de François Mitterrand. por exemplo, toda a imprensa francesa sabia da existência de uma filha, Masarine, que o presidente tinha tido de uma outra relação. No entanto, isto só foi noticiado, quando Mitterrand enviou claros sinais que não queria mais manter o segredo. No enterro do presidente morto em 1996 vitimado por complicações causadas por um câncer, as duas famílias participaram juntas de todas as solenidades oficiais. Aliás, na morte do presidente,a imprensa francesa deu outra manifestação de civilidade. Apesar de ser do conhecimento de todos que Mitterrand agonizava em seu apartamento particular. nenhuma equipe de jornalistas dava plantão diante do edifício. A notícia da morte foi divulgada oficialmente pelo presidente Jacques Chirac.
Tanta civilidade não impediu. no entanto que no velório privado alguém tivesse feito uma foto do corpo do presidente com uma minicâmera e a vendesse para o Paris Match que a publicou. Foi um escândalo. (E.S.)
Eis a questão que desafia a imprensa européia. Na Inglaterra, dos tablóides
sensacionalistas, apesar dos ventos contrários que jornais como o Sun vêm enfrentando, a imprensa sensacionalista que explora escândalos - de preferência sexuais -. fofocas, faits divers e entretenimento continua com tiragens milionárias. O SW1, por exemplo, vende 3,7 milhões de exemplares. Já vendeu quatro milhões, mas os excessos cometidos na cobertura da morte da princesa Diana parecem ter deflagrado um certo descontentamento do público com a imprcnsa sensacionalista.
Este tipo de imprensa se beneficia das leis extremamente liberais existentes na Inglaterra e de urna interpretação bem ampla do que seria um código de ética por parte das entidades profissionais que congregam os jornalistas ingleses. Os leitores atraídos pelos jornais populares são basicamente jovens operários e funcionários não qualificados. principalmente do sexo masculino. Ainda não se pode falar em crise, mas o público da imprensa sensacionalista vem diminuindo, preferindo ver mais televisão ou mesmo comprar os jornais tradicionais que dedicam cada vez mais espaço para assuntos populares, esportes e entretenimento. A família real é um dos alvos prediletos da imprensa popular e são poucos os instrumentos jurídicos com que ela conta para proteger sua privacidade.
Na França, a situação é totalmente diferente. Leis muitas rígidas e um código de ética extremamente rigoroso garantem a privacidade dos cidadãos. A diferença entre o público e o privado é claramente delimitada e respeitada e as penas para quem cruza indevidamente a fronteira são pesadas, tanto financeira quanto juridicamente. Durante o governo de François Mitterrand. por exemplo, toda a imprensa francesa sabia da existência de uma filha, Masarine, que o presidente tinha tido de uma outra relação. No entanto, isto só foi noticiado, quando Mitterrand enviou claros sinais que não queria mais manter o segredo. No enterro do presidente morto em 1996 vitimado por complicações causadas por um câncer, as duas famílias participaram juntas de todas as solenidades oficiais. Aliás, na morte do presidente,a imprensa francesa deu outra manifestação de civilidade. Apesar de ser do conhecimento de todos que Mitterrand agonizava em seu apartamento particular. nenhuma equipe de jornalistas dava plantão diante do edifício. A notícia da morte foi divulgada oficialmente pelo presidente Jacques Chirac.
Tanta civilidade não impediu. no entanto que no velório privado alguém tivesse feito uma foto do corpo do presidente com uma minicâmera e a vendesse para o Paris Match que a publicou. Foi um escândalo. (E.S.)
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